segunda-feira, abril 26, 2004

Havia alguém na praia para beijar


A praia de uma nação inicia um músculo de mistério. Para além de mim não há ninguém senão o que eras tu.

Aqui sou muito lentamente alguém. Havia uma bandeira de areia que as naus prenunciavam.

Alguém da memória numa maresia. Havias tu numa falésia.

Havia ainda um beijo sozinho para acompanhar ao destino.

Nessa ilha onde nunca me encontrei, fui uma esperança de especiaria que te fez um tijolo de luz tranquila.

Nesse mar que temperava a terra fui mais um pouco e ninguém me continua além de mim próprio.

A exaustão da cor um pouco por toda a areia do mar.

Esta calma é uma explosão de mosquitos pensamentos que fazem o vidro vivo. Havia alguém na praia para beijar.

Havia distintamente uma praia ...

Um coração separa-me do mundo e uma porta da tempestade. Procuro uma agricultura de veludo em ti que seja uma nação.


segunda-feira, abril 19, 2004

O corpo do malmequer


São quinze minutos de ondas, em que as pernas se misturam com os cabelos e a memória é o vulcão do mar de malmequer.

Lembro-me do pólen que queima as avenidas por onde o sangue se aventura, quando não tinha nada caminhava, e ainda assim trepidava um perfume.

Contigo uma recta límpida de um lume.

Há um abismo que nos conhece de perto. Há um amor que desvanece as lâminas do secretismo.

É assim que te encontro na árvore das ondas.

Acordas-me do corpo. E depois sou obrigado a viver.



segunda-feira, abril 12, 2004

capri azulemente

é aqui a porta funicular para
o que se acaba no pensamento

capri
há um fim da escrita na pluma

o lápis pálido do mar é infinito no corpo
português
por isso sinto
a cor
qualquer bandeira

qualquer parte de lábio
nas margaridas limpas
num papiro de pele

aqui

encontro na subida da falésia luminosa
e fácil tentacular
o fim
de alguma viagem
o princípio do início capri

há um leite infinito
que lembra temperatura
corpos que procuram
aqui capri
vejo o lazuri fresco e sinto
o planeta assustado dos poetas
um vento virgem assola
as mãos vazias
líquidas lusas

e lembrei-me do teu primeiro
olhar havia flores de memória
uma margem que arejava
nos beijos


sábado, abril 03, 2004

O tratado dos trabalhos do homem


O teu pensamento interactivo deixa-me descansado, leva-me pálido na planície de gordura que o nevoeiro foi matando ao longo do tempo.

Leio tudo mas nunca chego a abrir um único livro com a luz branca da morte. As páginas passam por cima das nuvens arejadas.

E os pombos continuam a voar sobre as estátuas sujas de Lisboa.

Neste dia existe uma vela que segura o corpo do mar na minha mão. E todos os trabalhos do homem tentam explicar a invisibilidade do amor numa avenida da vida.

As ruas do Chiado continuam a derramar esse sangue que o castelo português construiu para calar as ondas agitadas.

E ninguém ouve a sombra que as grutas escondem, ninguém verifica o néon que deslumbra a fraqueza dos corações alados.

Eu continuo porque finalmente.

Morri em trabalhos antigos, na língua de aço de um funicular.