Fragância
Engraçado como o corpo se esfola por sentir e nunca nada vê além do momento. Foi preciso que me tocasses para que conhecesse a fragância do tempo.
Foi preciso que perdesse a alma por uma noite, e vivesse no eco silencioso das paredes que absorvem as histórias das pessoas.
Foi preciso que não vivesse fora das muralhas da pele, no barco alucinante que transporta as pinturas da ebulição dos corpos.
Tudo o que ia escrever sobre a tela foi rapidamente pelas mãos, para a flora da tua pele, onde se desenhou o suor umbral e maquinal do fogo.
Encontrei-te no som interminável do precipício doce do desejo.
Ficaram vestígios da viagem por toda a casa, principalmente no quarto, onde a água sucumbiu ao voo nobre das águias.
E na manhã seguinte restou-me o livro branco da nicotina com que se escreve a imortal memória. O oceano onde se guarda a desarrumação dos brincos e das pulseiras pela casa.
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