quarta-feira, janeiro 07, 2004

O fantasma que descansa na maresia


O meu gato não é meu, nem de ninguém. Não pertence a si próprio, porque os gatos ainda não têm palavra para inventar que têm próprio.

E o vazio do silêncio não lhes deixa feridas na maresia dos sonhos. As máquinas com açúcar que nascem na lua a seguir ao sono.

Uma serenidade plena no deserto dos olhos transporta-nos ao tempo das areias quentes, ao plátano do pensamento quando não há nada por que partir.

E hoje a única lágrima do tempo é o fantasma perfumado de uma pátria.

As mulheres portuguesas ainda misturam a vagina pela vegetação da vontade, mas sentados nas muralhas, mentimos com os músculos dos livros de história.

Por isso é que os gatos não têm livros, porque não há nada de novo na inocência fingida dos bébés. Tudo tem o mesmo cheiro de há milénios.

O olhar antigo e húmido do nevoeiro não incomoda ninguém, e hoje as ondas só servem para levar os desejos que guardamos no pó dos poemas.

Mas continua no segredo do mar um império que nos foi prometido pela água. Há quinas que ainda não têm terra.

E a seguir ao quinto ainda há-de vir um sexto império. Se deus nos quiser.


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