quarta-feira, dezembro 03, 2003

A alegre vertigem eléctrica que deixaste


Gosto que sejas impossível, uma guitarra ecléctica há-de cantar para sempre essa ponte metálica que nos separa.

Uma flor do fruto sobe pelo teu rosto até ao abismo secreto do lábio. A minha deambulação é vária e contrária.

Gosto do sumo que vejo outros beberem no meio do deserto.

Outros que não têm a gota nebulosa do nevoeiro a trespassar o coração. Outras vidas há em que a serpente do beijo tem apenas queijo e não pensamento.

Eu que não tenho desertos ao pé de ti. Eu que não tenho a certeza das montanhas.

Gosto do marfim de veludo sobre o teu cabelo, uma música que interpreta a amnésia da alma sobre essa falésia negra.

Eu que não tenho declives de aço ao pé de ti. Eu que só tenho o mistério malmequer do desejo concreto para te oferecer.

Um lençol húmido separa-se do cheiro do teu corpo, uma qualquer máquina marítima vai matar a vertigem que deixaste no labirinto da pele.

Vou acabar por gostar que sejas invisível, o teu alegre reflexo revela-se na areia sólida do tempo que morre.


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