Porque que é que as crianças morrem
São de criança esses olhos cinzentos de vidro azul, são pedras de água que ainda não viram a cinza vermelha e sintética do homem.
São a alma ainda sem o vulto sonolento da cortiça, sem a mentira do corpo que procura a poeira da terra, para esconder a crueldade na inocência.
São de uma beje pintura marítima, que emprestam a pureza de deus ao mundo. Tudo se presta a arder no cinzeiro onde os corpos fazem o fogo.
Estiveram no meu colo milímetros brancos de criança, que agora se desfazem no lume brando e seco das palavras tentaculares.
Gosto de observar a lava das letras a borbulhar no sentido dos pensamentos.
É assim que nos matamos, com as lápides que sonhamos no nevoeiro. E dizemos às crianças que a emergência das sombras são nos cartoons.
Sofremos tanto que gostamos. Fumegamos o lume tépido da lua em todos os olhos cinzentos de vidro azul.
Para que as crianças nos igualem e possam também morrer. Para que sejam a espuma da clorofila. Para que sejam a seiva das plantas.
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