sexta-feira, dezembro 05, 2003

O suor ancestral dos corpos lusos


A fome da espada é o nosso maior náufrago, um dia houve em que a caravela foi o próprio crepúsculo da vontade.

A nossa branca nau encontra-se desnuda.

No intervalo dos Dez Cantos à Mensagem apenas sobreviveu a poeira seca e intrépida da poesia.

Tudo o resto é o líquido da lágrima que o próprio verso canta.

A lástima da língua que emerge ainda em cada africano. O que nos deixou de ser nunca mais foi de ninguém. A sombra adquiriu-se ao vulto.

África nasce dessa misteriosa miséria lusitana, da espuma do esquecimento que cobre a auréola luminosa das praias.

Essas dunas soltas que ainda procuram as velas no céu da paisagem.

As velas hoje celas da cidade que Cristo abraça sobre as sete colinas.

Mas a nuvem atravessa indiferente ao sonho sanguíneo de Lisboa. O algodão não é senão algodão, e não se importa com o suor ancestral dos corpos.

Deus deu-nos o intestino do destino, o alimento da vertigem que se segue ao feito da descoberta.


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