quarta-feira, dezembro 24, 2003

O vulto da espuma indómita


Sou um corpo que se perde no pão cruel da noite.

O gelo preenche-me quando me sinto parte de algo, há uma penumbra inevitável que me aproxima de uma montanha prismática.

E continuo a não fingir o amor que se propaga entre os animais.

Quando passam por mim pessoas lembro-me do poema inexistente. Lembro-me de uma pátria de granito azul, acente em fios de espada.

Lembro-me de uma mensagem, de uma pessoa. Continuamos a sofrer o mar dentro de uma dezena líquida de letras.

Quando voam esses sonhos da caravela, há uma lápide medicinal que me apazigua, um desejo que um livro lido e esquecido me transmitiu numa lágrima.

A vontade do corpo distrai-me, mas continuo a chorar a sombra da morte no teu sorriso.

Quando for uma criança vou desenhar uma página de terra branca, só para que o teu nome a preencha com uma planta florida.

Lembro-me de um império de sal doce. Continuamos a imaginar a pele dos castelos na cinza da espuma.

E vamos ardendo na vela fecunda das bibliotecas.


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