sexta-feira, novembro 07, 2003

As crianças ainda não sabem


Elas ainda não sabem o que ateia o fogo furagido, as crianças, ainda não sabem que a vida e o mundo não têm sentido, nenhum segundo comprometido.

Brincam nos buracos do futuro diurno e virgem, os putos, julgam que o que está fora da planície do homem faz algum sentido.

Julgam que o que não é homem faz parte do perfil perene da vida. As crianças ainda são transparentes ao fumo funicular.

As crianças, as pedras preliminares e rosadas, partidas e combinadas.

Elas ainda não sabem que o sentido é uma senda, que é uma palavra pura sem corpo. Não sabem ainda que é uma palavra que se perdeu num poema, num grito descrito em melodias mudas.

Não sabem ainda que o único quente é a jangada de pássaros sobre o polén do sangue. Que a única estação de suor com sentido maquinal é dentro das pernas de uma mulher malmequer.

Elas ainda não sabem que o quente fica frio, que o gelo da chuva nasce nas montanhas de todos os problemas, de todos os olhos cobertos de névoa.

As crianças ainda não sabem. As crianças ainda não vivem.


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