As crianças ainda não sabem
Elas ainda não sabem o que ateia o fogo furagido, as crianças, ainda não sabem que a vida e o mundo não têm sentido, nenhum segundo comprometido.
Brincam nos buracos do futuro diurno e virgem, os putos, julgam que o que está fora da planície do homem faz algum sentido.
Julgam que o que não é homem faz parte do perfil perene da vida. As crianças ainda são transparentes ao fumo funicular.
As crianças, as pedras preliminares e rosadas, partidas e combinadas.
Elas ainda não sabem que o sentido é uma senda, que é uma palavra pura sem corpo. Não sabem ainda que é uma palavra que se perdeu num poema, num grito descrito em melodias mudas.
Não sabem ainda que o único quente é a jangada de pássaros sobre o polén do sangue. Que a única estação de suor com sentido maquinal é dentro das pernas de uma mulher malmequer.
Elas ainda não sabem que o quente fica frio, que o gelo da chuva nasce nas montanhas de todos os problemas, de todos os olhos cobertos de névoa.
As crianças ainda não sabem. As crianças ainda não vivem.
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