O trigo branco silencioso
Quando vi o branco estava a falar com o preto. A falar com flores, pétalas de falácias cromadas. E tu surgiste do nada absoluto, pendente de um fogo âmbar de uma estrela, um timbre que se diz prolongado sobre o corpo da noite.
Lembrei-me logo de um palácio de paredes de açúcar.
Vi-te, uma bandeira de cores construídas, desfraldada no oceano de ópio sedoso. Uma pedra luminosa no deserto das incertezas.
E sorriste como ninguém.
Mas não devias, essa luz simples, esse sorriso de fogueira, ainda nos há-de matar a todos, todos os tolos de um dia num segundo.
Esse aço branco lembra-me que os nenúfares são baralhos de cartas.
Afinal ainda tenho nas mãos um jogo de trigo silencioso. Mas estou seguro, o doce de amora, uma lembrança de geleia ainda me vai acordar de um mar salgado.
Sim, todas as noites. Todas as noites esse sorriso de faca vai-me inventar novamente. Vai-me lembrar que eu pertenço a nada, e por isso posso abraçar os braços do universo, posso navegar no leite dos versos.
E assim os meus olhos foram com o teu corpo, acompanharam-te até um plano quente, um lago docemente inclinado e sem interrogações.
Eles contaram-me como se vive em casas de lençóis, onde há pedaços de felicidade espalhados no vidro das janelas.
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