domingo, outubro 05, 2003

As sementes cinzentas


Sou inerente à água do tempo. Mesmo á beira frugal da falésia.

Aquele nome que vem indomável do escuro preto, inóspito e húmido. Aquela música, que dizemos invisível e dentro de um livro cinzento, pequenas gotículas de infância, sobre a lombada, o corpo de uma porta lacrada.

O eixo mortal dos segredos, que deixam o dia em suor. O marfim, que pesa no livro cinzento, de sementes ásperas.

Mas o som nasce, quando os dedos tocam no sol. Uma bola joga luminosa. Novamente, num berço virgem de ervilhas.

Ervilhas que fazem ouro do precipício, quando a manhã é o dia que vou desbastar, uma cortiça, folhas escritas e dobradas. Manuscritas e quebradas. Escritas no tempo da memória seca, nas páginas marginais das sementes, nas páginas da Árvore. Na minha alma de lama.

E deixo o sal cair, perto do sol, e morrer de letras que não são minhas. Lentamente, ao longo da estrada. Como um livro que não escrevo, nem leio.

Não quero comer mais maças de incógnitas. Até chegar ao fim, e ao princípio da encruzilhada dos segredos. Os segredos deixam-me indiferente á vida. Mas diferente na lida, do cinema de novelos.

Os novelos de aço que pingam, de outros novelos sem fim, leite e pão de água branda. Ideias brancas que fazem o meu momento. Deixam a claro o sémen do pensamento. Enquanto os anos passam, os novelos desfiam o vazio do gelo, e preenchem momentos de pensamento, inertes.

Achamos que deixamos de ser o momento, que perdemos o pensamento num riacho, numa descida declivada de braços.

Achamos, tristes, que fazemos parte do tempo. Da ponte para a estrada láctea, plancton para as ideias do corpo, cansado de sentimentos.


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