terça-feira, outubro 21, 2003

A espada do desejo


Estou cansado, do desejo, da noite e do dia. A diferença líquida faz a mão escorregar sozinha, no corpo invisível que desconheço.

A ponte de vapor ácido para o húmus dos sentimentos, quando as pequenas sombras de luz são encolhidas na noite, no íris placento do dia morto.

Estou cansado dos braços assados no aço lamacento do tempo. Estou cansado dos momentos serem pensamentos.

Estou cansado da guerra não ter cara nem nome, não ter coroa nem fome.

O devorador das sementes singulares, sumos diurnos e sonhos pendulares. Tudo o que o tempo bebe e deleita na cama curvilínea das nuvens.

Os olhos alimentam-se do fogo inerte, algumas histórias esquecidas e frutos desvanecidos. Algumas montanhas de gelo são entretanto erguidas.

O carvão húmido da combustão, há ainda o destino de óleo mergulhado nas paredes surdas. Nas costas brancas e direitas dos museus. A melodia que perdura, tempos marítimos e bandeiras arqueadas.

Ainda a espada da memória, nas páginas do mar.

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