quinta-feira, outubro 02, 2003

mar límpido do momento


tu
és vela
numa falésia
de maresia brava
onde vou tu andas
num sonho de nuvens
sobre o meu pensamento
onde me sou tu nadas
no mar límpido do momento
numa faca de amnésia
onde o sangue escreve
ventos soltos de sol
por onde tu andas
na linha ténue
das ondas
do rio
eu


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A fusão no neon leite do teu corpo


reflito o meu sonho
no neon leite do teu corpo
no intervalo de tempo
e de vida
no álcool das palavras
que nos separam
a ilusão inevitável do verão
e do inverno cupido

o feno
de suco alexandrino
percorre os teus braços
de penumbra límpida
luminosa
dentro de um desejo
e dança encandescente
arcos simples de memória nova

esta melodia
de mel e iguaria
coloca a deambulação
perto das pernas do mar
contando histórias laminares
que estende numa mão
ampla e aflita
o teu açucar de rosa

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A alameda cristalina


o frio da inocência
deixa uma lágrima
no bordo de uma palavra
um barco líquido
que faz o teu corpo nascer
num veludo de conforto
perco-me no palco
de cristal
nesta alameda
de mel
e pintura diamante.

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A inocência de algumas discrepâncias


eu era um turismo de pensamentos
secretos pelos trilhos rurais
e momentos sozinhos
o fumo funicular
de maresia natural
a manhã banhou o mar
a água que desenhava o corpo
do dia adolescente
árvores
casas
o sal
o meu corpo inquieto
e toda a vida que agitava
a vibração das pedras mortas
pelas ruas de cal
de pessoas
nomes
todas as coisas mortas
que dão nome às coisas vivas
e a banha lenta da saudade
que lambe um conceito
o da quinta essência
que acerca o peito de inocência
e algumas discrepâncias.

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Na margem húmida da madrugada


este é um tempo pleno
de momentos
de luzes luminosas
quando a planície da tua pele
ainda perdura na planta desperta
na margem da madrugada
onde algumas palavras
se confundem com o atletismo
das hormonas de neon quente
dilacerante
depois da tua noite
de amplexo sanguínea
tornei-me límpido como o ar
limpo e verde das florestas originais
depois de telemóvel ter ampliado
o estrume da humidade
nos sentimentos de cristal lácteo
eu sento-me
no sofá sozinho ponderado
e costuro com tijolos e letras de lã
o sentido napa dos dias líquidos
a vida após a luz adolescente
e marginal da madrugada.


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Universo de um rosto


no limiar
do teu lábio
existe o líquido
para o precipício
de um universo de leite
enquanto falas com o baton
na estrela de um segredo
que queima
o gelo encarnado
e encardido no meu rosto
enquanto contamos aos amigos
mentiras sobre as palavras
e os versos luminosos
existe um límpido perfil
de silêncio em novelos
e pedras eléctricas
que vão chovendo
nas noites
das melodias engrenadas
a escrita de andorinha
não termina
nem quando o corpo deixa
de ser sozinho no prado
nas colheitas do estio.

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