quinta-feira, outubro 16, 2003

O vento entre a pedra e a almofada


A inocência mata, tanto como o cigarro que pinta o pulmão, perto do coração. Como uma bomba de tinta em sangue. Tanto como o cheiro inodoro do silêncio das rosas, as sombras de cores límpidas que se perdem numa estrada de poeira. Nesta estrada que a inocência mata.

As pegadas da tua escultura são laminares, só eu as entendo. Só eu compreendo a distância, o caminho de luz entre a tua alma e o vento.

Uma laranja cresce no leite laminar da troca de palavras, uma águia de lama que perdura lentamente no pensamento. No momento que tinha no bolso da página.

Mas a ti não te chega a luz ténue, tu difundes-te. Não deixas o relógio morrer nas mãos líquidas dos segundos que vão morrendo.

As minhas palavras passam, perdem-se no labirinto da pele, carregadas de sentimentos invisíveis, passam inertes pelas folhas estendidas. A tua vela de significados é-lhes indiferente.

O vento faz a diferença entre a pedra e a almofada. Entre o sonho e o teu último beijo do momento. Este tempo que é só do pensamento.

A pintura fica como o pulmão preto de óleo, como o som seco daquilo que não existe. E a minha sombra é preliminar, indica que vou partir mais um vidro de vento num livro.


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