segunda-feira, outubro 13, 2003

Mordo


Mordo gradualmente a água invisível do teu corpo, o templo nobre sobre o Alentejo, lentamente, ao longo da viagem de silêncio, enquanto as nuvens do sol não se escondem.

Por trás dos teus cabelos, as montanhas de algodão escorrem fáceis das mãos áridas, entre os dedos, morrem em desejo pálido.

Mordo miragens cor de rosa, paisagens de pétalas.

O teu caminho calmo passa entre os segundos, entre os tempos de inércia da chuva. Congratulo-me de ter sido atropelado nessa barragem. Acordei, dentro de uma página branca. Agora a morte do teu perfume permanece a leste de um sonho que não existe no mundo.

O desfiladeiro de sombras, entre a seda de um beijo que nasceu. Entro devasso no suor dos teus olhos, onde dormem os pilares do arco íris. Mordo as barragens de tília misteriosa, com os dentes da sede solta.

Mordo a tua parte de mim, perto da falésia do fim do dia.

A infância decorre no parapeito de aço dúctil, onde a capa de um livro inerte é brilhante. Um braço de sentimentos, fútil, cai de uma janela de gritos inodoros.

Morro no muro, contigo, numa gruta quente de alecrim.

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