segunda-feira, outubro 06, 2003

Gostava


Gostava. Ao olhar para ti, gostava que o teu corpo fizesse os meus braços, as árvores com a fome implacável da melodia.

Um planalto de laços, descansam dormentes, amordaçam o limbo e a chuva da floresta. As árvores húmidas da rebeldia. Gostava que fosse inealável. Desesperava por um pouco de música que fizesse sentido. Um tom que distinga o bisonte da mosca.

Um rio absorve, derruba em leite, lentamente, os teus cabelos, longos, pardos. Abrem estradas, rosas alagadas, num declive de uma escada. Degraus invisíveis.

Eu deixo morrer a maresia de plátanos.

Deixo-me ir no ar arenoso. Deixo de ser o açúcar do sal. Sou indistinto. Deixo-me de letras e palavras e parto latas de líquido. Para derreter o teu cheiro de carne secreta, pedaços de alma indiscreta.

Gostava que, sobre a tua pele, queimasse o meu destino, num mar marítimo. Límpido e líquido, como um mapa de cartas para o signo.

Eu sou, em cada passo, um sapato teu. Definitivo, como um vinho de livros verdadeiros.

Em cada momento, alternativo ao som do pássaro, nas asas que deixam as interrogações serem solitárias, as paredes pretas de nuvens.

O algodão ácido que deixas em bolas de húmus, lentas madeixas em concórdia.


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